Nete da Cultura: “Feliz. Eu sou feliz assim como eu sou, pirada”.

11 de outubro de 2015 - 17:54, por Marcos Peris

Entrevistada da Semana

Entrevistada da Semana

Claudinete tem 64 anos, e costura desde os 25 anos, casada, mãe de quatro filhos. Morou 20 anos estado de São Paulo, mas, preocupada com a segurança de suas filhas, retornou a Lagarto. Ao regressar à sua terra natal, teve todas as suas economias confiscadas pelo Governo Federal do então presidente, Fernando Collor de Mello.

Após a entrevista, confessou ao Portal Lagarto Notícias que enfrentou duras perdas, como a morte de uma de suas filhas, tal perda a fez desacreditar das coisas, e até brigar com Deus. E mesmo com todas as dificuldades, ela busca desenvolver um trabalho filantrópico, do seu jeito simples, através da dança.

Acompanhe na íntegra, a entrevista com a costureira que encontrou na dança a alegria de viver.

LAGARTO NOTÍCIAS- Quem é Nete?

NETE- Nete é uma pessoa simples, que gosta de trabalhar e ajudar as pessoas.

LN-Há quanto tempo a senhora trabalha produzindo fantasias? O que te levou a produzir essas roupas?

NETE- Eu trabalho desde os 25 anos, porque eu vim de São Paulo e quando eu cheguei aqui, a situação apertou. Eu tive que me virar e fazer fantasia, que é o que eu gosto e acho que a minha vida inteira é isso. Fazer fantasia.

LN- Há quanto tempo a senhora dança quadrilha?

NETE- Há 16 anos. Eu danço na quadrilha Buscapé, que a 16 anos era conhecida como Balancê das Damas, mas as mulheres foram perdendo o fôlego e eu coloquei os homens. Dai o nome Buscapé.

LN- Qual a sua maior alegria em todos esses anos de apresentação?

NETE- O que me deixa mais alegre é ver a turma que eu ponho na quadrilha, ganhar o troféu. Como no concurso Levanta poeira que eu tirei em um dos primeiros lugares.

LN- O município de Lagarto vive um momento de reestruturação da sua cultura popular, seja pelo Sarau e outros eventos. O grupo, o qual a senhora faz parte e coordena, recebe algum incentivo? Como ele se mantém?

NETE- Eu não recebo incentivo de ninguém, eu mantenho a quadrilha fazendo e alugando fantasias. Mas eu aprendi, no concurso Levanta Poeira, que a gente tem que fazer uma rifa, um carnêzinho, porque a gente tem de ter uma banda boa para concorrer.

LN- Qual o maior desafio já enfrentado nesses anos de cultura?

NETE- O maior desafio é manter uma quadrilha que gasta quase R$40.000.00 todos os anos, e eu não tenho ajuda de ninguém, só os ônibus que todos os prefeitos me dão. Mas eu não tenho ajuda de ninguém, vem tudo daqui do trabalho da máquina.

LN- A senhora foi homenageada com o prêmio de Mulher Lagartense.

NETE- Eu ganhei um prêmio da rádio Juventude FM em 2010 e esse ano na câmara de vereadores no Dia da Mulher. Pode ser besteira para muitos, mas para mim é válido. Eu sou chique!

LN- A Nete Costureira é muito conhecida no município. Como a senhora gostaria ser lembrada?

NETE- Como a Nete da cultura, porque eu sou da cultura. Eu sempre quis fazer uma associação para ajudar os jovens que estão comigo, porque eu sei que eles não estão bem, estão fumando detrás das escolas… Quando eu vejo isso, procuro dar conselhos, digo que quem dança não precisa disso. Uma vez, uma mãe que tinha uma filha especial chegou e disse: “Dona Nete eu quero colocar minha filha numa quadrilha, mas quadrilha nenhuma quer”. Então eu disse: “vamos colocar ela na quadrilha, ela fazia fisioterapia, e hoje, depois da dança, não faz mais”. E eu que passo 24 horas sentada trabalhando nessa máquina, quando eu chego ao ensaio, que eu danço, eu volto a mil! A dança me atrai.

LN- Qual palavra te define?

NETE- Feliz. Eu sou feliz assim como eu sou, pirada. Não existe outra Nete, eu tenho 64 anos, não ando como uma velha, não me visto como uma velha. Eu sou totalmente diferente, eu gosto das músicas que meus filhos gostam, gosto de sair pra dançar. Tenho mais força que minhas filhas e costuro 24 horas por dia.

LN- Qual a mensagem que a senhora pretende deixar ao povo de Lagarto?

NETE- Eu queria que eles olhassem mais para as pessoas que estão cultivando a cultura, só precisa disso, e o resto à gente toca pra frente.

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